Descrição
Lea Managil (Lisboa, 1991) em residência na AiR 351, em Cascais, entre Setembro e Dezembro de 2024, foi a vencedora da mais recente edição do concurso Bolsa Fundação PLMJ / AiR 351, que obteve 50 candidaturas.
A artista encontra-se a desenvolver um corpo de trabalho que se baseia nas marcas visíveis do fumo e do vapor nas superfícies, em particular no vidro e no espelho. Esta pesquisa é alicerçada na observação quotidiana mas também no estudo do simbolismo destes elementos em diferentes épocas e contextos. Através de técnicas de impressão e da modelagem de objectos encontrados, Managil procura recuperar esse rastos-vestígios e torná-los permanentes.
De forma comummente desinteressada, entendemos o fumo e o vapor como presenças disformes, que tanto ascendem primeiramente visíveis como por fim desvanecem, todavia deixando rasto. Quantos de nós, ignorantes das antigas práticas e ritos ancestrais associadas à interpretação do fumo/vapor, procuramos reaver o nosso reflexo na superfície fria do vidro ou espelho embaciados? Ou que de outra forma, não tornamos baça uma destas superfícies, com o vapor da nossa expiração, para que numa tela em branco se transformasse? Nelas deixamos notas fantasma, marcas de água temporárias, um beijo, o vestígio da gordura dos lábios, dos dedos no retrovisor do espelho do carro, da testa que encostou dias antes contra o vidro da janela do transporte público; o sorriso rapidamente rabiscado na entediante viagem de longo curso - segredos e vestígios tantas vezes revelados com a magia de um bafo quente. (Lea Managil)